quarta-feira, 17 de julho de 2013

História de um médico cubano por Noblat

Sandro Vaia

O Dr. Gilberto Velazco nasceu em 1980 em Havana e recebeu seu diploma
de médico em 15 de julho de 2005.

No depoimento que me deu por e-mail e por telefone, disse que a sua
graduação foi antecipada em um ano depois de uma “formação crítica e
gravemente ruim”, excessivamente teórica, feita através de livros
desatualizados, velhos, rasgados, faltando ...páginas, além de “uma
forte doutrinação política”.

No hospital onde fez residência havia apenas dois aparelhos de raio X
para atender todas as ocorrências noturnas de Havana e não dispunha
sequer de reagentes para exames de glicemia.

Pouco adiantava prescrever remédios para os pacientes porque a maioria
deles não estava disponível nas farmácias.

A situação médica no país é tão precária que Cuba está vivendo
atualmente uma epidemia inédita de cólera e dengue.

Em 2 de fevereiro de 2006 foi enviado à Bolívia numa Brigada Médica de
140 integrantes -14 grupos de 10 médicos cada - que iria socorrer
vítimas de inundações que nunca chegou a ver.

No voo entre Cuba e a Bolívia conversou sobre assuntos médicos com o
vizinho de poltrona e descobriu que ele não era médico, mas
provavelmente oficial de inteligência cubana. Calcula que em cada 140
médicos 10 eram paramilitares.

Na Bolívia, onde lhe disseram que iria permanecer por 3 meses, ficou
sabendo que deveria ficar no mínimo por 2 anos, recebendo 100 dólares
de salário por mês e que a família receberia 50 dólares em Cuba -
quantia que, segundo ele, nunca foi paga.

Viveu e trabalhou em Santa Cruz de la Sierra e em Porto Suarez, na
fronteira com o Brasil.

Todos os componentes da Brigada recebiam um draconiano regulamento
disciplinar de 12 páginas, dividido em 11 capítulos, que fixava desde
horários e requisitos para permissões de saída até regras para
relações amorosas com nativos e punia contatos com eventuais
desertores.

Os médicos verdadeiros eram vigiados pelos falsos médicos que, segundo
Gilberto, andavam com muito dinheiro e armas. Ainda assim, o Dr.
Gilberto, em 29 de março de 2006, conseguiu pedir formalmente asilo
político à Polícia Federal em Corumbá e foi enviado a São Paulo, onde
ficou 11 meses.

Pediu à Polícia Federal a regularização de sua situação para poder
fazer os Testes de Revalidação Médica exigidos pelo Conselho Federal
de Medicina, mas o pedido de asilo foi negado.

Como o prazo de refúgio concedido pelo Conare - Comitê Nacional para
os Refugiados - terminava em fevereiro de 2007, pediu asilo aos EUA no
consulado de São Paulo, e em 2 de janeiro de 2007 viajou para Miami,
Flórida, onde vive agora.

A família do Dr. Gilberto foi penalizada por sua deserção com 3 anos
de proibição de viagem ao exterior, mas atualmente vive com ele na
Flórida.

Ele trabalhou para uma empresa internacional de seguros de saúde, onde
chegou a receber 50 mil dólares anuais, e atualmente está estudando
para concluir os exames de revalidação de seu diploma médico nos EUA.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da
Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da
Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor
do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira
cubana Yoani Sanchez.



Fonte: Blog do Noblat - O Globo

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