sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Terroristas IV

Quando a vida espreme o MST

Alon Feuerwerker - Nas Entrelinhas

Em vez de conquistar a reforma agrária onde ela faz sentido, o MST está encurralado onde a via prussiana já se encarregou de implantar o capitalismo




O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) está na encruzilhada. Sua bandeira clássica de luta contra o latifúndio improdutivo enfrenta as agruras da passagem do tempo. A grande propriedade improdutiva no Brasil vem pouco a pouco deixando de existir como tal. De um lado, ela sofre a reforma agrária biológica , a pulverização territorial por herança. De outro, assiste ao avanço da produção intensiva em capital.

Na política, o cenário tampouco é animador para o movimento. No governo de Luiz Inácio Lula da Silva a reforma agrária foi transformada em subdepartamento dos programas sociais. O PT preferiu olhar com simpatia para a grande propriedade capitalista. Lula teve suas razões para dar as costas ao público tradicional dele: o agronegócio, além do poder no Parlamento e da força financeira, é uma perna vital no desempenho das exportações.

Qual seria a saída natural para o MST? Acoplar a luta pela democratização da terra ao movimento de ocupação territorial do país. O povoamento efetivo do território é possivelmente o grande desafio do Brasil neste século 21. Em vez de cortar pés de laranja em São Paulo, talvez o MST devesse gastar o tempo lutando para que a expansão da fronteira agrícola dê prioridade à agricultura familiar e à produção de comida destinada ao mercado interno.

Só que o MST não quer caminhar por aí, talvez por razões políticas. Por causa das alianças que construiu nos últimos anos, com o ambientalismo global e com as organizações dedicadas a criminalizar o desenvolvimento do Brasil. Assim, em vez de conquistar a reforma agrária onde ela faz sentido historicamente, o MST está encurralado nos lugares em que a via prussiana, pelo alto, já se encarregou, de um jeito ou de outro, de instalar o capitalismo.

A consequência óbvia é um comportamento regressista, niilista e ludista. Destruir meios de produção como método de luta para alegadamente democratizar os meios de produção. Para um movimento que nasceu defendendo o progresso para todos e a universalização do direito de propriedade, é uma caminhada e tanto para trás.

O valor da floresta em pé

Sobre o debate abordado aqui ontem a respeito do novo Código Florestal, um leitor (que pede para não se identificar) escreve dizendo que não há contradição entre preservar e produzir. Diz que é perfeitamente possível fazer o manejo das vegetações naturais de modo a, simultaneamente, respeitar os limites legais e garantir a produtividade de pequenas e médias propriedades. Especialmente na Amazônia.

Deve ser mesmo possível, pois há muita gente boa que garante isso. Qual é o problema? É que até hoje não se construiu um caminho prático para que a floresta em pé valha mais do que a derrubada. No dia em que a inequação for invertida, o assunto estará resolvido. Talvez resida aí o grande desafio programático para a senadora Marina Silva (AC), pré-candidata do PV à Presidência da República.

Não há como impedir que o sujeito busque uma vida melhor para si e sua família. Haja a lei que houver, ele vai buscar isso. É divertido quando as autoridades ambientais apresentam a queda nas taxas de desmatamento como resultado direto de alguma ação governamental. O desmatamento cresce ou diminui quase sincronizadamente com a aceleração ou desaceleração do PIB, do consumo e das exportações.

A expansão das fronteiras agrícolas no planeta é função do crescimento do mercado. E as pressões só tendem a aumentar. Ainda há muita gente abaixo de padrões aceitáveis de consumo. Especialmente na Ásia, na África e na América Latina.

Um favor ao Brasil

Os argumentos do governo a favor do regime de partilha no pré-sal têm fundamento, assim como as vantagens competitivas proporcionadas à Petrobras. O mesmo se dá com o fundo soberano. O que o governo não explicou até agora pelo menos do ângulo do interesse público é por que criar uma nova estatal do petróleo. E com atribuições quase divinas.

Dizem que na Noruega é assim. Mas não é porque funciona na Noruega que vai funcionar no Brasil. A monarquia, por exemplo, talvez não seja o caso de importar dali.

A verdade é que a estatal do pré-sal leva todo o jeito de ser só uma moeda de troca política. Uma imperatriz do petróleo, loteada politicamente e com poderes absolutos de gestão. Poderá ser útil a Dilma Rousseff na construção das alianças para 2010, mas depois será um foco de problemas para o Brasil e para Dilma, caso ela se eleja.

O Congresso Nacional fará um favor ao país se derrubar a ideia.

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