segunda-feira, 16 de junho de 2014

Quem diria!!!

Olha aí pessoal, publicado  no Jornal  O GLOBO.



Figueiredo estava certo

 Paulo Figueiredo Filho

 É verdadeira a história que circula na internet de que o presidente
João Figueiredo recusou-se a promover a candidatura do Brasil à Copa
do Mundo, sob o argumento de que o país teria outras prioridades.
Dissera, ao então presidente da Fifa e seu amigo, João Havelange:
"Você já viu uma favela no Rio de Janeiro ou uma seca no Nordeste?

Acha que eu vou gastar dinheiro com estádio de futebol?" A estimativa
de Havelange era de que toda a Copa custaria estrondoso US$ 1 bilhão
da época, algo como R$ 6 bilhões em valores de 2014.

Foi por uma dessas peças do destino que eu, neto do presidente que
recusara a Copa mais de duas décadas antes, recebi como uma das
primeiras tarefas na minha passagem pelo setor público, em 2007, a
coordenação da candidatura do Estado do Rio - e, consequentemente, do
Brasil - para sediar a Copa do Mundo de 2014. Acabávamos de sediar,
com sucesso, os Jogos Pan-Americanos, e a Copa do Mundo no país do
futebol parecia um tremendo sonho.

Foi um raro momento de convergência de interesses e união de todas as
esferas de governo e da CBF, que mergulharam de cabeça na candidatura,
com engajamento pessoal do presidente Lula.

Lembro-me da sensação de euforia quando conquistamos o direito de
sediar o evento maior do futebol. Aquela seria uma Copa diferente,
prometiam. A organização alardeava que os estádios seriam
integralmente custeados pela iniciativa privada, incluindo a reforma
do Maracanã, orçada à época em R$ 300 milhões. O Brasil assumiu, por
escrito, um compromisso de resolver gargalos antigos de infraestrutura
e mobilidade e teríamos até um trem-bala ligando as duas maiores
cidades do país. Haveria tempo de sobra para a preparação. Era a
grande chance do Brasil. Pesquisas mostravam que mais de 90% da
população apoiavam a Copa do Mundo aqui. Talvez, então, Figueiredo
estivesse enganado.

Hoje, sete anos depois, às vésperas da competição, eu e boa parte do
país somos forçados a reconhecer a sabedoria do meu avô. Pesquisas
recentes mostram que o apoio à Copa no Brasil caiu para 52% da
população. Pudera: o custo total da competição deve chegar a R$ 30
bilhões. Menos da metade das obras de infraestrutura foi entregue e os
estádios viram seus custos de construção quadruplicarem em alguns dos
casos mais escandalosos de superfaturamento da história da República.
Por pura ganância de alguns, gastamos cerca de R$ 11 bilhões do
dinheiro dos contribuintes apenas na construção das arenas da Copa.

O sonho virou pesadelo e, como Figueiredo antecipara, tantos bilhões
teriam sido suficientes para custear integralmente casas populares a
quase 2,5 milhões de pessoas ou sete vezes e meia o orçamento original
da transposição do Rio São Francisco. Mas, em vez disso, acabaremos
com estádios de futebol vazios e um gosto amargo na boca do que a Copa
poderia ter sido e da chance que desperdiçamos. É, parece que
Figueiredo conhecia o Brasil melhor do que ninguém.



Fonte: O Globo –11/06/2014

http://oglobo.globo.com/opiniao/figueiredo-estava-certo-12799581

Nenhum comentário:

Postar um comentário