sábado, 9 de novembro de 2013

voo da galinha - Arnaldo Jabor

Continuo concordando com  Sócrates que disse: Todo povo tem o governo
que merece!!!!!!!!

O povo brasileiro ainda vai sofrer muito até  adquirir consciência
política e aprender que é importante saber votar!!!

Enquanto isso..........




O voo da galinha – Arnaldo Jabor
A extensa reportagem da revista inglesa “The Economist” sobre o Brasil
devia servir como um programa de governo para a presidenta Dilma.
A revista é reconhecidamente a melhor do mundo em seriedade e
profundidade de informação. No entanto, nossa raivosa e arrogante
Chefa considerou a matéria uma espécie de “oposição” à sua
administração cada vez mais “bolivariana”: “A revista está mal
informada etc.” e repetiu os slogans que seus assessores petistas lhe
sopram. É tão impressionante isso tudo. O tom geral da matéria
deplora, lamenta que o Brasil, com todas as condições para uma
decolagem, um “take off”, esteja jogando tudo para o alto, tanto pelo
olho nas eleições quanto pela teimosia ideológica de enfiar o país
dentro de um programa arcaico e inútil. Claro que os governistas
acusarão a revista de “imperialista”, de “neoliberal”, de estar do
lado das “grandes corporações” — o mesmo uso que fizeram sobre a
espionagem americana na Petrobras (será que descobriram por que a
Petrobras comprou uma refinaria no Texas por 1 bilhão e duzentos
milhões de dólares que não consegue vender nem por 100 milhões?).
Essa gente que está no poder bota sempre a culpa de nossa indigência
em alguém de fora. Nosso amigo e líder Nicolas Maduro, da Venezuela,
disse que a falta de papel higiênico, de comida e de energia é tudo
culpa do Estados Unidos. Seguimos sua linha.
Aliás, preparem-se para uma eventual reeleição da Dilma que, ao que
tudo indica, vai partir para o “bolivarianismo” explícito, como já
declara o site do PT. Será que a nova Dilma vai se “cristinizar” para
a construção do “socialismo imaginário” que justificou o “mensalão”?
Na realidade, a revista, em seu artigo chamado “Será que o Brasil se
detonou?”, praticamente só faz perguntas. “Por quê?” — pergunta a
revista o tempo todo.
Por que, entre os países emergentes, nós temos o pior desempenho? Terá
sido apenas um voo de galinha (chicken flight?), pois aproveitamos
muito mal a enxurrada de dinheiro que entrou aqui nos últimos anos?
Por quê? Por que o governo não ataca os problemas principais,
enunciados por qualquer economista sério do mundo, e se detém em
remédios demagógicos, como buscar médicos medíocres em Cuba para fazer
propaganda socialista nas cidades pobres, como o ridículo trem-bala,
como os estádios bilionários para a Copa, que até nosso povo
“futeboleiro” condenou nas manifestações? Por que o famoso PAC, com
seu “desenvolvimentismo tardio”, não consegue terminar nem 20% das
obras propostas? Por que o governo não consegue privatizar (opa:
“fazer concessões”) nem rodovias, nem ferrovias, nem aeroportos, sem
errar várias vezes, sem conseguir redigir contratos decentes,
atraentes? Por que o Rio São Francisco continua parado, com grandes
regos secos que o Exército fez? Por que não explicam à população as
causas dos atrasos, em vez de gastarem bilhões em propaganda enganosa?
Por que o número de carros dobrou em dez anos e as estradas continuam
podres e paralisadas? Por que a China acaba de cancelar a compra de 2
milhões de toneladas de soja por causa da dificuldade do “gargalo
Brasil”? Por que a maior produção de soja no mundo fica na fila
infinita de caminhões porque não há silos, detidos pela burocracia
mais atrasada do planeta? Por que a inflação pode se descontrolar de
novo? Por que contrataram mais de 100 mil pelegos para boquinhas no
governo, em vez de cortar custos da atividade-meio? Por que estimular
o consumo, sem estimular o aumento da oferta? Por que os preços no
Brasil são o dobro de qualquer país do mundo, sendo que o chamado “Big
Mac Index”, a ferramenta de comparação de preços, mostra que nosso Big
Mac é 72% mais caro que em qualquer lugar e carros custam 45% mais
caro que no México, nos EUA? “Ah... porque a carga tributária é de 36%
do PIB e nos outros países semelhantes não passa de 21%”. Então, por
que não lutar por uma reforma tributária profunda, em vez de jogadas
periódicas premiando uma ou outra atividade? Por quê? “Ah, porque é
muito difícil passar no Legislativo...” Mas, por que não usar toda a
força da maioria que tem para isso? Por que a agroindústria, tão
esquecida pelo governo (que gosta mais do MST), salva-nos todo ano com
sua lucratividade? Será que vai bem justamente porque o governo não se
meteu? Por que o SUS é a porta do inferno? Por que a educação-zero
está impedindo a produção nacional, sem mão de obra para nada? Por que
temos o recorde mundial de analfabetismo funcional? Por que será que
os investidores internacionais têm medo de vir para cá, ultimamente?
Será que é porque eles sabem que nós mudamos regras, não respeitamos
contratos nem marcos regulatórios e porque nós queremos lhes enfiar o
Estado goela abaixo? Por que será que, de todo o dinheiro arrecadado
para as aposentadorias no país, 50% são para pagar apenas 20% dos
aposentados (setor público, claro), enquanto a outra metade é para
pagar os 80% restantes? Por que somente 1,5% do PIB é investido em
infraestrutura, quando no resto do mundo são por volta de 4%? Por quê?
Nossa infraestrutura é a 114ª pior entre 148 países.
Ou seja, continuamos sob “anestesia mas sem cirurgia” (Simonsen). Por
quê? Talvez a resposta esteja em Platão e sua carroça. Ele disse que é
dificílimo guiar um carro com dois cavalos diferentes — um bom
marchador e outro manco e lento. É nosso destino, em um governo
dividido entre o “bolivarianismo” e as necessidades óbvias, reais do
país. Ao contrário do que proclamam, o óbvio pragmatismo
administrativo não é “de direita” não, e seria bom para o crescimento
e para reduzir a desigualdade.
A matéria da “The Economist” tem a boa intenção de nos acordar para a
racionalidade; não quer nos destruir, não é da “oposição”. A
reportagem da revista, que é lida no mundo inteiro, serve para nos
lembrar da famosa frase de Reagan (sim, o reacionário) — perfeita para
nos definir: “O Estado não é a solução; o Estado é o problema.”
Ah, sim; a revista esqueceu de mencionar uma importante força da
natureza que nos impele para o erro: a muito esquecida categoria
política da... burrice.
Estadão – 1º/10/13

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